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Quarenta Filmes Para a Quarentena

Continuando os posts relativos à quarentena, resolvi mudar um pouco a direção das publicações, e pensei: que filmes indicaria a alguém para assistir durante esse período? Então fechei uma lista com quarenta indicações, de vários gêneros e nacionalidades - gêneros como animação e documentários, que assisto menos, acabaram ficando de fora. Em compensação, filmes orientais, perturbadores e musicais tiveram mais indicados, por serem os que mais assisto. Sem mais delongas, vamos à lista.

Quarentena e seus efeitos colaterais. (Filme: Oldboy) (Crédito: Divulgação - Show East)

01) Oldboy (2003) - Dirigido por Park Chan-wook, Oldboy ainda é meu filme oriental preferido, e o filme coreano mais conhecido no ocidente (até Parasita chegar com tudo). É uma história de vingança brutal e poética, com uma trilha sonora perfeita de Jo Yeong-wook, e a grande atuação da vida de Choi Min-sik, talvez seu personagem mais conhecido, Oh Dae-su. Oldboy é o segundo capítulo da Trilogia da Vingança, e disparado o melhor. Poucas pessoas sabem (ou se lembram), mas o filme é baseado em um mangá japonês, que aqui no Brasil foi lançado pela editora Sampa. O final do mangá é diferente, bem menos impactante. Park amplia muito a premissa da história original, criando uma das conclusões mais surpreendentes e chocantes que já vi.

02) Parasita (2019) - Só o fato de ser o primeiro filme coreano (e estrangeiro) a ganhar o Oscar de Melhor Filme já o faz merecer um lugar na lista, mas Parasita é mais que apenas um vencedor do Oscar. Bong Joon-ho mostra que é um dos maiores diretores da atualidade, conduzindo uma história que transita perfeitamente entre o trágico e o cômico. O roteiro é brilhante, trazendo uma crítica social contundente e extremamente necessária para os dias de hoje. O filme conta também com ótimas atuações, com destaque para Song Kang-ho.

03) Visitor Q (2001) - Takashi Miike, na minha opinião, é um dos melhores e mais experientes diretores japoneses. Dono de uma estética bastante característica, e tendo a violência como elemento-chave de seus filmes, traz aqui uma de suas produções mais peculiares e bizarras (e particularmente, meu filme preferido dele). O filme é um experimento das possibilidades da mídia digital, e expõe diversos tabus da sociedade, de maneira desconcertante e até cômica às vezes. Já fiz uma crítica de Visitor Q aqui no blog, disponível em:

04) O Pacto (2001) - Foi um dos primeiros filmes orientais que assisti, e me impactou bastante, não somente pela violência, mas pela mensagem. O Pacto aborda a alta taxa de suicídios no Japão (o nome original é Jisatsu Circle, mas é mais conhecido por Suicide Club), e os efeitos da internet na comunicação entre as pessoas. Estamos realmente conectados com os outros? E com nós mesmos? É a obra-prima de Sion Sono. Houve uma "sequência" em 2005, A Mesa de Jantar de Noriko, que apesar de interessante não alcançou o status nem a qualidade de seu antecessor.

05) Eu Vi o Diabo (2010) - Suspense policial bastante inspirado em Seven, com mais uma grande atuação de Choi Min-sik, e que aborda a temática vingança de maneira bastante original. Senti uma forte influência da Trilogia da Vingança de Park Chan-wook, e na minha opinião, Eu Vi o Diabo é melhor que Mr. Vingança e Lady Vingança juntos. Foi bastante criticado pela violência excessiva, mas ao meu ver ela possui uma função narrativa importante, e em momento nenhum foi algo gratuito. Também já fiz uma crítica desse filme, disponível em:

06) O Teste Decisivo (1999) - Mais um Takashi Miike na lista, Audition (que foi pessimamente traduzido para O Teste Decisivo aqui no Brasil) é um filme com uma estrutura bastante própria, que começa quase como uma comédia romântica de humor ácido e se torna um suspense psicológico brutal. A primeira metade é bem lenta, mas o ritmo é necessário para a construção narrativa, e para que colida no clímax do final. A direção de fotografia e especialmente a direção de arte merecem destaque, sem contar o trabalho de luz perfeito, uma das iluminações mais precisas que vi nos últimos tempos. A crítica completa do filme está disponível em:

07) O Hospedeiro (2006) - Bong Joon-ho é um diretor muito versátil, e em O Hospedeiro ele traz um filme de monstro com fortes críticas sociais e, especialmente, ambientais. O design da criatura é ótimo, e os efeitos especiais, apesar de não serem maravilhosos (devido ao orçamento) são convincentes o suficiente e não atrapalham a experiência. É um filme mais que indicado para o momento que estamos vivendo, por haver muitas semelhanças com o surto de coronavírus. O grande trunfo do filme, entretanto, é a atuação de Song Kang-ho, que na minha opinião está melhor aqui do que em Parasita (mas daí é gosto pessoal). A crítica completa do filme está disponível em:

08) Ichi - O Assassino (2001) - Para finalizar os orientais, temos mais um Takashi Miike (claramente ele é meu diretor asiático preferido, e um dos meus preferidos de modo geral), o notório Ichi The Killer. Mais um filme sobre a yakuza, mas que puxa a violência mais para o extremo possível, e traz, mais que cenas gráficas, uma construção psicológica absurda por trás, especialmente dos protagonistas, Kakihara e Ichi. A tilha sonora, mesmo que não apareça muito no conjunto do filme, tem a canção Space on Space, da banda Boredoms, que funciona como o tema do filme (e é maravilhosa).

Será que a quarentena irá nos transformar em mártires? (Filme: Martyrs) (Crédito: Divulgação - Canal +)

09) Martyrs (2008) - Um dos meus quatro filmes preferidos. É talvez o filme mais brutal que já assisti, e é o roteiro que mais admiro. Foi minha maior inspiração para meu primeiro curta-metragem, Estrelas. Martyrs é brutal em todos sentidos - graficamente, psicologicamente e filosoficamente. Discute temas densos como religião, vida após a morte, depressão e até mesmo esquizofrenia de certa maneira. Grandes atuações das protagonistas, com destaque para Morjana Alaoui, no papel de Anna. E posso dizer isso com mais propriedade, agora que já assisti ao remake: passem longe da versão americana de 2015. É o pior e mais desnecessário remake que já assisti na minha vida. A crítica completa do filme está disponível em:

10) Cisne Negro (2010) - Meu filme preferido do Darren Aronofski. Uma aula de como fazer poesia na sétima arte, com uma trilha sonora impecável (Tchaikovski, não tinha como ser diferente) e a melhor atuação da carreira da Natalie Portman. Com um final trágico e bonito ao mesmo tempo, é um filme que deixa o espectador sem palavras - já sabia do final antes de assistir, e mesmo assim fiquei impactado.

11) O Poço (2019) - Bastante recente, circulou o mundo devido às semelhanças com a situação que estamos vivendo, e foi um divisor de águas: uns amaram, outros odiaram, outros apenas não entenderam. Opiniões e gostos à parte, O Poço é um filme genial, que discute não apenas questões sociais e econômicas, como traz também questionamentos religiosos e morais, em uma história quixotesca permeada por violências, físicas e psicológicas. A crítica completa do filme está disponível em:
https://cinealternativoblogspot.blogspot.com/2020/03/alem-da-barreira-das-legendas-o-poco.html

12) Corpus Christi (2019) - Filme polonês que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro junto a Parasita, e que entre os indicados de 2020 foi um dos mais esquecidos, não somente pela força do trabalho de Bong, mas por ser difícil encontrá-lo para assistir. É um filme, entretanto, que merece muito ser assistido, e uma das melhores surpresas que tive na lista de indicados esse ano. Tem uma história simples, mas engajante, e questiona diversos tabus religiosos de maneira contundente. A cena final é muito poderosa, e põe o espectador a refletir o status da igreja e da religião em nossa sociedade.

13) Réquiem Para um Sonho (2000) - Mais um Aronofski na lista. Réquiem Para um Sonho é um filme que, ao contrário de outros do diretor, segue uma abordagem mais realista, de maneira que a mensagem seja mais direta e, portanto, mais dura e impactante. É talvez o filme mais desesperançoso que já assisti na vida, com uma visão completamente pessimista da dependência de drogas e os efeitos que estas causam nos usuários e nas pessoas ao redor. A trilha sonora de Clint Mansell colabora muito com a construção do clima claustrofóbico. A montagem é outro aspecto que se destaca, assim como o trabalho de som. Réquiem Para um Sonho, além de uma obra impactante com uma potente mensagem anti-drogas, é uma aula de montagem e edição.

14) A Outra História Americana (1998) - Filmes sobre nazismo geralmente são fortes, e A Outra História Americana não foge à regra. Se passando na atualidade, a produção se volta para o neonazismo, e conta com um elenco de peso, encabeçado por Edward Norton, em seu melhor papel. A mensagem é forte, e a transição entre passado e presente é muito bem feita através do uso de preto e branco e colorido, respectivamente. Não apenas neonazismo, o filme discute a gênese do preconceito, e as marcas que este deixa na vida das pessoas.

15) Laranja Mecânica (1971) - Stanley Kubrick era bom em tudo que fazia. Desde terror (O Iluminado) a filme de guerra (Nascido Para Matar), comédia (Dr. Fantástico), romance erótico (De Olhos Bem Fechados), ficção científica (2001 - Uma Odisseia no Espaço), e em Laranja Mecânica ele trabalha as temáticas violência e até política, em uma adaptação do livro homônimo de Anthony Burgess. Proibido em vários países em seu lançamento, é uma das obras máximas de Kubrick.

16) Dogville (2003) - Se há um cineasta polêmico, este é Lars Von Trier. Famoso por suas declarações duvidosas, por ser uma pessoa difícil em set e por seus filmes controversos, Lars tem uma filmografia bastante interessante. Dogville é um de seus filmes mais experimentais, com uma duração de quase três horas e direção de arte impecável. O filme se passa em um galpão, e todos cenários são somente riscos de giz de cera no chão. A história é bem densa, e o diretor aposta na violência psicológica (e gráfica, especialmente no ato final) para discutir tópicos como moralidade e corrupção dentro da sociedade.

Cantando os dias para que acabe a quarentena. (Filme: Os Miseráveis) (Crédito: Divulgação - Universal Pictures)

17) Os Miseráveis (2012) - Eu amo musicais. Os Miseráveis é meu musical preferido, e o primeiro contato que tive com ele foi a adaptação de 2012. O filme não cobre todos aspectos da peça - músicas foram cortadas, tanto trechos quanto inteiras, e a ordem das canções foi levemente alterada, algumas alterações boas e outras ruins, sem contar a adição de uma música original - e nem é um filme perfeito (One Day More é uma cena bem bagunçada), mas ainda acho que é uma das melhores adaptações já feitas de musicais. O longa de Tom Hooper consegue captar a essência da peça e ser um filme muito fluido. São três horas que passam voando, e mais, são emocionantes.

18) Rocky Horror Picture Show (1975) - Falo sem medo nenhum que Rocky Horror Picture Show é dos filmes mais importantes da minha vida. Musicalmente é maravilhoso, e tem o personagem mais icônico vivido por Tim Curry (mais que Pennywise na minha opinião), Frank N Furter. É um filme bastante peculiar, uma ficção científica surreal que fala sobre vampiros alienígenas transexuais. E por mais maluca que seja a premissa, tem muito a dizer, especialmente no combate à LGBTfobia.

19) Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007) - Minha história com Sweeney Todd é um tanto quanto curiosa. É uma das minhas três peças musicais preferidas (junto a Les Mis e Hamilton), mas nunca curti tanto o filme, até entender a proposta dele. A adaptação feita por Tim Burton teve o aval do próprio Stephen Sondheim, que coordenou a parte da trilha sonora e decidiu que alterações seriam feitas. Assim, muitas músicas foram cortadas (incluindo Kiss Me, uma das melodias mais bonitas da peça), mas de maneira que funciona muito bem. O filme é o filme, a peça é a peça, e cada um é bom em sua maneira.

20) Chicago (2002) - Vencedor do Oscar de Melhor Filme no ano de 2003, Chicago é um filme estupendo. Muito inspirado em Cabaret, tem uma trilha sonora contagiante com toques de jazz, e um elenco de peso - Renée Zellweger, Catherine Zeta-Jones, Richard Gere, John C. Reily, entre outros. Sem contar a versão incrível de Cell Block Tango, que consegue transmitir a força da canção mesmo fora do palco.

21) O Fantasma da Ópera (2004) - Chegamos a um momento delicado, pois não gosto tanto da adaptação de O Fantasma da Ópera feita para o cinema, mas ao mesmo tempo prefiro mais a trilha sonora do filme do que da peça (gosto pessoal), e acho que o filme pode ser uma porta de entrada para muitos espectadores à obra-prima de Lloyd Webber, talvez o maior musical de todos os tempos, e a peça em cartaz por mais tempo na história.

22) Rent - Os Boêmios (2005) - Rent é um caso semelhante. Reassistindo ao filme, percebo que é um filme que não chega aos pés da peça, mas que serve como ótima porta de entrada - foi assim para mim. Então, mais que O Fantasma da Ópera, a indicação de Rent é na verdade da peça, mas por ser impossível assistir a peças na internet (a não ser que encontre um bootleg), a adaptação de 2005 é uma boa pedida. Um mérito do filme é manter a maioria do elenco original, incluindo Anthony Rapp como Mark, um dos meus personagens preferidos de musicais.

23) Dançando no Escuro (2000) - Poderia indicar muito mais musicais, mas finalizo o gênero indicando mais uma obra de Lars Von Trier (meu cineasta preferido por sinal), que é um dos musicais mais estranhos e impressionantes que já assisti. É um dos filmes mais soco-no-estômago do diretor, que discute a necessidade da pena de morte, e no meio disso tudo há números musicais de Björk - que faz a protagonista, em um dos bastidores mais conturbados dos últimos tempos. Assunto para outro post. Mas confusões à parte, Dançando no Escuro é um filme duro e direto que provoca intensamente o espectador.

Se ao menos pudéssemos ir ao cinema... (Filme: Cinema Paradiso) (Crédito: Divulgação - Ariane Films / TF1 Films Production)

24) Cinema Paradiso (1988) - Meu filme preferido. Soma-se à direção precisa e apaixonada de Giuseppe Tornatore um roteiro brilhantemente escrito, que aborda a cinefilia e o fazer-arte de maneira original e tocante. O destaque, entretanto, vai para a trilha sonora de Ennio Morricone, uma das mais clássicas da história do cinema. O tema de Cinema Paradiso é um dos temas mais conhecidos de Morricone, e um dos mais bonitos, senão o mais. Tudo nesse filme é perfeito. Não é à toa que foi o vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano em que concorreu. A crítica completa do filme está disponível em:
https://cinealternativoblogspot.blogspot.com/2020/03/alem-da-barreira-das-legendas-cinema.html

25) A Liberdade É Azul (1993) - De todos filmes de Krzysztof Kieslowski, o que mais mexe comigo é A Liberdade É Azul. Assim como Cinema Paradiso (e vários outros da lista), tem uma trilha sonora linda, composta por Zbigniew Preisner (que colaborou com o diretor em vários outros filmes, incluindo os capítulos seguintes da Trilogia das Cores). A história, por sinal, é centrada na temática música, e aborda uma gama imensa de questionamentos, entre eles solidão, melancolia e independência.

26) Betty Blue (1986) - Um drama erótico francês que fala sobre relacionamentos e loucura. A versão mais conhecida é a do diretor, com em torno de três horas de duração. O desenvolvimento narrativo do filme é muito interessante, e a personagem de Betty é muito bem construída. O destaque, entretanto, acaba sendo de novo a trilha sonora: composta por Gabriel Yared, a trilha traduz perfeitamente a relação de Betty e Zorg, da paixão à loucura. O tom do filme é bastante melancólico, e se acentua nas cenas finais, culminando em um desfecho cinematograficamente perfeito.

27) A Viagem do Capitão Tornado (1990) - Dirigido pelo grande Ettore Scola, A Viagem do Capitão Tornado é mais um manifesto de amor à arte, mas dessa vez ao teatro. É um filme que mostra os desafios e as dificuldades que artistas passam para sobreviver e serem reconhecidos, e por mais que o foco seja uma trupe de teatro, qualquer artista que busca viver de sua arte irá se identificar.

28) Retrato de uma Jovem em Chamas (2019) - Indicado a diversos prêmios mundo afora, incluindo Cannes, Bafta e Globo de Ouro, Retrato de uma Jovem em Chamas foi uma grande surpresa para mim. Faz tempo que o cinema francês vêm produzindo majoritariamente comédias românticas e filmes leves em termos de conteúdo, e Retrato é um filme que retoma as raízes do cinema francês, ainda mantendo uma abordagem e estética moderna. Ao contrário de Azul É a Cor Mais Quente, aqui a relação das personagens é tratada de maneira mais sutil e voltada para o emocional, sem perder a eroticidade (provavelmente pelo fato de ser uma diretora mulher).

28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos. É quando a quarentena irá acabar... será? (Filme: Donnie Darko) (Crédito: Divulgação - Newmarket Films)

29) Donnie Darko (2001) - Há filmes que precisamos assistir de novo para compreender por completo. Donnie Darko não é um desses, pois não importa quantas vezes assistimos, nunca iremos entender tudo. E isso que é genial na obra de Richard Kelly. Há um Jake Gyllenhaal em início de carreira (já mostrando por que é um dos melhores atores de sua geração), mas o grande trunfo do filme é o roteiro. O pilar da história é viagem no tempo, mas a maneira que Kelly trabalha esse elemento é ótima, mantendo ao mesmo tempo uma clareza e um mistério em torno disso. A trilha sonora, além da OST ótima, tem clássicos dos anos 80 e 90, um dos aspectos pelo qual o filme é lembrado. E claro, quando achamos que entendemos tudo, vem a cena final, e depois disso assistimos de novo e de novo. Foi minha segunda crítica aqui no blog, ainda em 2016, disponível em:
https://cinealternativoblogspot.blogspot.com/2016/10/donnie-darko-2001.html

30) Blade Runner - O Caçador de Andróides (1982) - Clássico do gênero ficção científica, Blade Runner não teve um sucesso imediato, mas com o passar do tempo virou um dos filmes mais celebrados de Ridley Scott, ganhando inclusive uma sequência anos depois (que na minha opinião, apesar de 2049 ser um bom filme, não era necessário). É um filme que discute tecnologia e humanidade, embalado pela trilha sonora magistral composta inicialmente pela New American Orchestra e elaborada pelo grupo musical Vangelis.

31) Clube da Luta (1999) - David Fincher é um diretor bem conceituado no meio audiovisual, e em Clube da Luta ele traz seu melhor plot twist. Claro, o filme como um todo é muito bem construído, e tem atuações impecáveis de Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bohnam Carter, mas o final é o momento mais impressionante do filme. Fincher nos conduz brilhantemente, de maneira que a revelação seja algo que nunca passou na cabeça do espectador mas sempre esteve lá o tempo todo.

32) Eraserhead (1977) - O cinema de David Lynch é, em uma palavra, bizarro. Ele dirigiu desde dramas mais pé no chão como O Homem Elefante a suspenses policiais - o clássico Veludo Azul. Mas ele é mais conhecido por sua estética onírica e nonsense, e Eraserhead, seu primeiro longa-metragem, é o que melhor define isso. O roteiro é... difícil de falar a respeito, mas há uma ambientação que beira (completamente) o surreal, e muitas representações imagéticas fortes. Mais fácil assistir para "entender" o que estou falando, e o motivo da indicação.

33) Cubo (1997) - Cubo é um filme que influenciou muitos outros, e mesmo assim poucas pessoas o conhecem. A premissa dele é discutir tópicos existencialistas e de vida após a morte, flertando com questionamentos religiosos, em um ambiente totalmente metafórico - O Poço - enquanto mostra pessoas trancadas em um lugar misterioso tendo que passar por armadilhas mortais - Jogos Mortais. Pena que não pararam no primeiro, as duas sequências são de qualidade bastante questionável (especialmente Hipercubo).

Evitem multidões, especialmente se houver pessoas armadas. (Filme: Cidade de Deus) (Crédito: Divulgação - O2 Filmes / VideoFilmes)

34) Cidade de Deus (2002) - Cinema nacional é um campo que gostaria de conhecer mais, infelizmente não assisti ainda a tantos filmes brasileiros. Os que assisti a maioria são mais recentes, então estou devendo, como cinéfilo, clássicos como O Auto da Compadecida, Deus e o Diabo na Terra do Sol, entre outros. Mas posso indicar alguns. Meu filme nacional preferido é disparado Cidade de Deus, filmaço dirigido por Fernando Meirelles e com roteiro de Bráulio Mantovani (a quem já tive o prazer de conhecer pessoalmente, conversar e entrevistar). O filme traz um retrato realista e cruel da vida em uma comunidade carioca, e tem um dos personagens mais emblemáticos do cinema nacional, Zé Pequeno.

35) Central do Brasil (1998) - Outro filme muito importante brasileiro é Central do Brasil, que conseguiu um feito histórico - em tempos pré-Parasita, ser indicado não apenas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas também a uma categoria principal, Melhor Atriz. Aliás, Fernanda Montenegro arrasa nesse filme, facilmente uma das melhores atuações de sua carreira, que mostra porque ela é a maior atriz brasileira de todos os tempos. Nossa Meryl Streep. Não posso esquecer de comentar também sobre a trilha sonora, que é de uma beleza absurda. O tema de Central do Brasil é um dos mais famosos do cinema nacional, talvez do cinema de modo geral.

36) Tinta Bruta (2018) - Um título recente, de acesso quase impossível, mas um grande filme. Assisti no cinema, em uma sessão comentada com o diretor e elenco (saudades Cinemateca Capitólio). Tinta Bruta extrapola o "rótulo" de filme LGBTQ, é uma história de amor e dor que explora as temáticas relacionamento, prostituição virtual e arte. Qual o limite entre o erótico e o pornográfico? Até que ponto a exposição sexual deixa de ser algo sensual e vira algo degradante em uma relação? Infelizmente, como comentei, é um filme praticamente inacessível, mas se um dia tiver a oportunidade de assistir a esse filme, assista. Influenciou fortemente a estética do meu segundo curta-metragem, Amor de Plástico.

37) Bacurau (2019) - Bastante comentado, Bacurau foi um dos destaques do ano passado em se tratando de títulos nacionais, e teve reconhecimento mundo afora. Mais do que qualquer aspecto, acho que a construção de universo do filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é perfeita, trazendo personagens muito bem desenvolvidos, seja os habitantes de Bacurau ou os estrangeiros. É um filme com forte teor político, mas a maneira que isso aparece é, ao mesmo tempo, explícita e implícita, em nenhum momento gratuita. Dessa maneira, a mensagem fica mais incisiva ainda. Um grande filme, que já entrou para a história do cinema.

38) Bingo - O Rei das Manhãs (2017) - Por último, mas não menos importante, há o filme baseado na vida de Arlindo Barreto, mais conhecido como o palhaço Bozo (não, não é o Bolsonaro). Aqui, eles apenas trocam o nome Bozo por Bingo, e mostram a vida complicada de Arlindo, que por trás da figura alegre e cativante de palhaço infantil, era um homem conturbado, que passou por diversos problemas conjugais e uma forte dependência de drogas, especialmente cocaína. O que mais me chamou a atenção nesse filme, além da atuação perfeita de Vladimir Brichta, é um plano sequência que acontece mais para o final do filme. Aquilo é perfeição cinematográfica, com certeza um dos planos mais bonitos e bem executados que já assisti na minha vida.

Para finalizar a lista, pensei em trazer dois filmes daquela categoria que amamos assistir mas nem sempre admitimos. Há filmes ruins, há filmes muito ruins, e há filmes que de tão ruins se tornam bons. Os piores dos piores. Trouxe, então, dois dos piores filmes que já assisti na minha vida, que ultrapassam os rótulos de "bom" e "ruim" e se tornam algo inclassificável.

Às vezes um filme ruim nos salva do tédio, e garante boas risadas. (Filme: The Room) (Crédito: Divulgação - Wiseau-Films)

39) The Room (2003) - Com certeza você conhece esse filme, mesmo que não saiba disso. The Room é a "obra-prima" dos filmes ruins, e o "melhor" pior filme de Tommy Wiseau. Poderia ficar horas citando por que Tommy é uma figura excêntrica e bizarra, mas isso fica para outro momento. The Room é um exercício de mau gosto de verdade (parafraseando Pink Flamingos), com um roteiro que era para ser levado a sério mas, de tão esdrúxulo, é impossível não rir. Wiseau produz, dirige, escreve e atua, nessa história trágica de amor em que... bem, os memes traduzem bem o que é The Room. De tão popular que esse filme se tornou, foi feito um filme sobre os bastidores do filme, chamado O Artista do Desastre - esse é bom ao menos.

40) Strawinski and the Mysterious House (2012) - Para fechar a lista com chave de ouro, há uma animação religiosa que também ficou famosa por causa da internet. O Globglogabgalab não é um meme tão conhecido quanto todos os de The Room, mas basta procurar no Youtube que se encontra vários vídeos com esse teor envolvendo o personagem. E ele é a única coisa "boa" em Strawinski and the Mysterious House, que ainda por cima é um musical (!). O roteiro... sem palavras. A animação é muito tosca, com sérios problemas no movimento das pernas e braços de alguns personagens, bem como a falta de lógica em tudo que acontece em tela. Mas não de uma maneira boa.

E essa é a lista. Espero que gostem dos filmes. Aproveito para indicar também meus dois curtas-metragens, bem como a videoarte que serve de prólogo para meu próximo filme (atualmente com a pré-produção paralisada devido à epidemia de coronavírus). Fiquem em casa, lavem sempre as mãos e aproveitem o tempo para produzirem o máximo possível dentro das condições que temos.

Estrelas (2018)


Amor de Plástico (2019)


Shiyoko (2020)

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