Quantas vezes você acessa o Instagram em um dia? Como se sente postando e rolando os infinitos stories? E quando seu post não recebe a quantidade de likes que você desejava, como você se sente? Em um dia em que a Wi-Fi cai, como você lida? Se você não consegue postar aquela foto que quer tanto, ou atrasa, qual o sentimento? Qual o real valor do seu reels? Quantas perguntas mais para traduzir o fluxo de informação da Internet hoje em dia?
Voltemos um pouco. Há décadas atrás, as gerações agora mais antigas viviam sem computador, celular, redes sociais, IAs, nada das inúmeras facilidades que a Internet nos proporciona hoje em dia. A comunicação, assim como muitos aspectos da sociedade, evoluiu muito com o passar do tempo. Não necessitamos mais (necessariamente) mandar cartas para nos comunicarmos com nossos amigos, temos o WhatsApp e o Instagram. Vinis, fitas VHS e até CDs e DVDs já caíram em desuso. A tecnologia nos proporciona facilidades como os streamings - para que ir no cinema se podemos assinar um serviço, ou vários, que nos disponibiliza filmes em casa? Por que comprar mídia física se filmes, músicas e jogos estão em uma nuvem e podemos consumir de qualquer lugar?
Me considero uma pessoa bastante analógica ainda. Uso WhatsApp, amo montar minhas playlists no Spotify, assisto filmes por streaming, mas tenho hábitos como revelar fotos e gravar com minha handycam de 2014 (que grava em 480p) que hoje em dia pode ser considerada uma câmera obsoleta. E em nível pessoal, sou contra esse excesso de informação a que somos expostos. O maior alvo deste texto é o Instagram. Recentemente tomei a decisão de, inicialmente, dar um tempo de usar o aplicativo, e uma das primeiras mensagens que recebi de um conhecido meu foi "seja offline, seja heroína". Em negrito. Interessante que o simples fato de desinstalar um aplicativo - isso que nem foi o caso de encerrar um perfil - causou tanto impacto como um todo. No primeiro dia quase senti uma abstinência, o que me fez pensar que talvez nós sejamos um tanto viciados em redes sociais e aprovações alheias. Após, me veio um sentimento de leveza e atenção maior, especialmente no cotidiano.
Começo estes primeiros parágrafos falando de mim mas apenas para contextualização. A vida fora das redes é um tanto quanto intensa, e real. Pequenos hábitos que temos, desde pegar o celular toda hora, nos decepcionarmos se recebemos poucas curtidas mesmo postando de vez em quando, e a própria comparação com a vida alheia - de acordo com a imagem plástica que vendemos nas redes... São pequenos hábitos que acontecem sem nos darmos conta. Aquele dia em que você vê um stories de seu amigo na rua e fica mal pois está em casa não vivendo aquele momento. Será? O que é viver em tempos de Instagram?
Quando você está entre amigos, faz registros afetivos com sua câmera e pedem que grave na vertical "para reels". A aparente alergia ao formato horizontal e o não convencional. O vídeo que você faz com mais de três minutos e, para ganhar engajamento, precisa acelerar e mutilar na montagem pois as pessoas não têm mais paciência para assistir três minutos. A Internet é como um trânsito, caótico e lotado todo o tempo. Se um carro fica parado por "muito" tempo - leia-se alguns minutos - o de trás buzinará, e o da frente também. Você só quer apreciar a vista, absorver o conteúdo, refletir sobre o que observa, mas precisa rolar o feed do TikTok ou seja o que for porque sim. E é tão habitual que fazemos sem nos darmos conta.
De maneira alguma isso significa invalidar as redes sociais, pelo contrário. Há muitas vantagens, tanto profissional quanto afetivamente. Você pode se comunicar com pessoas do mundo inteiro, pode ampliar o alcance de seu negócio, deixar registrado momentos especiais para a eternidade e, se for mais ousado, utilizar das redes para até mesmo subvertê-la e fazer sua arte em cima da própria rede. Mas qual conteúdo será mais visto, o vídeo em velocidade 2x com uma edição padronizada e música usada por todo mundo ou o vídeo artístico que não tem pressa de ser e dura 10 minutos?
Me parece que nós, como sociedade, temos pressa. Pressa de ser. Pressa de expressar. As redes sociais nos possibilitaram uma manifestação incrível de opiniões e vivências, mas ao mesmo tempo gerou uma compulsão nisso. Que bom que você gostou do restaurante, que o prato estava delicioso, mas porque eu me importo com isso? Da mesma maneira, por que você deveria se importar se eu saí com a pessoa X ou Y ou fui no lugar Z? Sendo um tanto quanto crua, o que de fato importa sua foto no espelho para os outros? Não condenando obviamente, cada um possui sua vida e deve poder fazer o que quiser com ela e não deve ser julgado por isso. Às vezes postar uma foto sua pode significar uma grande conquista, elevar sua autoestima e o deixar melhor. Mas quando isso faz bem e quando isso se torna uma obsessão, uma "biscoitagem" gratuita? O que realmente vale nesse engajamento todo na prática?
São perguntas e perguntas e mais perguntas, praticamente retóricas, que nos deixam atordoados. Tantas perguntas, que por serem tantas, geram tantas respostas, todas ao mesmo tempo. E de que adianta ouvir tantas respostas ao mesmo tempo? Nós acabamos indo a todos lugares mas, ao mesmo tempo, a nenhum, deixando tudo sem sentido. Vazio. O post genérico e mais do mesmo, no grande pão e circo que vivemos hoje em dia. O resultado disso: uma geração ansiosa e imediatista que sabe de tudo, tem todas informações na palma da mão, no Google, nas inúmeras inteligências artificiais (que rendem toda uma outra conversa), mas que necessita de uma matéria para saber "Quem é Slash, o guitarrista que tocou com Ryan Goslin no Oscar 2024".
Continue usando o Instagram. O Facebook. O WhatsApp. São boas ferramentas e, querendo ou não, elas estão aí, não vão embora e precisamos saber utiliza-las. Se você curte usar inteligências artificiais para estudar ou para o que for, continue usando. Mas reflita um pouco. O que realmente importa e para quem? Qual o real sentido disso tudo para você? É ótimo receber um like, mas você realmente precisa tanto de aprovação e de likes?
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