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10 Grandes Roteiros Audiovisuais - Parte I

O processo de produção de um filme envolve muitas etapas, e pode se tornar algo bastante demorado, mas a primeira - e mais fundamental de todas - é o roteiro. O roteiro é a espinha dorsal do filme. Claro, há filmes experimentais que não possuem roteiro (Império dos Sonhos, do David Lycnh, é um bom exemplo), mas de modo geral um filme não existe sem um roteiro. Mais que direção, é minha função preferida. É um dos primeiros elementos que observo quando assisto a qualquer filme. Sendo assim, pensei em organizar uma lista com meus roteiros preferidos, considerando qualidade e, mais que tudo, gosto. Então é uma lista bastante pessoal e subjetiva, sem uma ordem específica (mas os primeiros colocados são meus preferidos dentre os demais).

Observação: para essa primeira parte, considerei apenas filmes internacionais. Futuramente irei trazer exemplos de filmes nacionais também. Nosso cinema é muito rico, e pretendo trabalhar mais obras brasileiras aqui no blog com o tempo.

Cena de BoJack Horseman que ilustra perfeitamente o processo criativo, seja ele qual for. (Crédito: Divulgação - Netflix)

01) Martyrs (2008) - Não é o melhor roteiro de todos os tempos, mas é meu roteiro preferido. Comentei sobre esse filme em diversas ocasiões (inclusive fiz uma crítica já), mas sempre trago ele como exemplo quando o quesito é storytelling. A maneira que Pascal Laugier trabalha temas existencialistas é brilhante, pois consegue ser ao mesmo tempo brutal e poética, ainda que um tanto quanto niilista e desesperançosa. Por mim, apesar de não ser um filme fácil de assistir, acho que é um filme obrigatório para quem quer seguir nesse ramo.

02) Cinema Paradiso (1988) - Era Uma Vez em Hollywood é um bom filme, mas a maior carta de amor ao cinema, na minha opinião, é Cinema Paradiso. Giuseppe Tornatore e Vanna Paoli trazem uma história simples e extremamente emocionante, que toca qualquer um que goste minimamente de cinema, ou arte de modo geral. Pura poesia, guiada não somente pela trilha sonora espetacular de Ennio Morricone, mas também pelo roteiro perfeito.

03) Visitor Q (2001) - O cinema oriental está longe de ser simples. Sempre carregado de simbolismos e situações impactantes, um dos aspectos mais impressionantes do cinema nipônico é o roteiro, e Takashi Miike é um dos mestres do storytelling. Em Visitor Q, uma de suas obras mais polêmicas, há um retrato visceral (literalmente) e caricato do Japão, rodeado de situações bizarras que vão de encontro a inúmeros tabus da sociedade.

04) Pulp Fiction (1994) - Não aidanta, Pulp Fiction ainda é (e sempre será) a obra-prima de Quentin Tarantino. A estrutura do filme é algo absurdo, com uma história que vai e volta no tempo de maneira brilhante, e um texto muito inteligente. Claro, as atuações, especialmente a de Samuel L. Jackson, ajudaram muito, mas o roteiro é talvez o maior destaque de Pulp Fiction, e é o que o torna um maiores clássicos do cinema.

05) Clube da Luta (1999) - Construir um plot twist envolvente é um desafio. Clube da Luta tem um dos plot twists mais clássicos da história (junto da revelação de O Sexto Sentido e o incomparável "eu sou seu pai" de Star Wars), mas vai além disso. Toda a história é brilhantemente conduzida, de maneira que, mesmo que tudo se construa para a revelação final, é envolvente do início ao fim. E o final é sem palavras.

06) Shortbus (2006) -  Realmente não esperava colocar esse filme na lista, mas foi uma grande surpresa para mim quando assisti, e rapidamente virou um dos meus filmes preferidos. Talvez nem tanto o roteiro, mas sim a construção de personagens e de universo, que enriquecem demais o storytelling de Shortbus. É o melhor uso de cenas de sexo que já vi, conseguindo ser explícitas sem perder a poesia, e mostrando o lado emocional dos personagens.

07) Parasita (2019) - Facilmente um dos melhores filmes orientais, talvez o mais conhecido na atualidade, especialmente após os prêmios consecutivos no Academy Awards esse ano. A maneira que Bong Joon-ho elabora sua fábula social é perfeita. A história transita muito bem entre a comédia e a tragédia, e traz texto e situações carregados de peso dramático e simbolismos. E há a cena da privada durante a inundação, um dos planos mais fortes e poéticos que já assisti em toda minha vida de cineasta.

08) O Poço (2019) - Outro filme que me pegou de surpresa. Por ter discutido sobre ele com vários amigos, ter feito uma crítica e participado de dois podcasts a respeito, coletei várias visões e interpretações do filme. Isso por si só acho que prova a genialidade de O Poço. Há inúmeros elementos, de forma que sempre que se o revisita encontramos um detalhe que não percebemos. Vai muito além de uma crítica social, trazendo uma analogia religiosa bem forte e até existencialista.

09) Dogville (2003) - É difícil escolher um filme apenas do Lars Von Trier. Polêmicas a parte, ele é um grande cineasta, e suas obras são intensas, densas e provocativas. Dogville não é o filme mais pesado nem o mais denso, mas amo o storytelling dele. O texto é extremamente inteligente, revelando a podridão da sociedade humana, e como a maioria das pessoas são falsas. Muito além do visual, da direção de arte incrível, há uma história contundente e reflexiva.

10) Donnie Darko (2001) - Um dos mais acessíveis da lista, e um dos meus filmes preferidos, Donnie Darko não teve uma boa recepção em sua estreia, mas se tornou um clássico cult com o passar do tempo. E parte disso se deve ao roteiro, que traz uma abordagem bastante original da temática viagem no tempo, além de diálogos profundos que trazem debates sobre física e questões existencialistas. Adotei para minha vida a conversa entre Gretchen e Donnie, a linha "você é estranho". É um dos meus diálogos preferidos, de todos filmes que assisti.


MENÇÕES HONROSAS

* Oldboy (2003) - Não tem outra: se fosse fazer uma lista de melhores plot twists da história, com certeza o de Oldboy entraria. É um filme maravilhoso, não "apenas" pela atuação de Choi Min-sik e a trilha sonora, mas o roteiro é simplesmente genial. Supera em todos sentidos o mangá que deu origem, e tem um dos finais mais surpreendentes e chocantes de todos.

* O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) - Baseado em um conto de F. Scott Fitzgerald, o filme de David Fincher é extremamente poético na maneira que trabalha o processo do envelhecimento (ou rejuvenescimento), da passagem do tempo em si e, especialmente, da nossa relação com a perda. Impossível não se emocionar em algum momento.

* Cubo (1997) - Um filme que não possui o devido reconhecimento. Além de ser uma forte influência para vários outros filmes da atualidade, discute de maneira perfeita tópicos envolvendo vida, morte e vida após a morte. Por trás da atmosfera de suspense psicológico, há um roteiro brilhante que, além de nos fazer refletir, consegue nos manter num estado de tensão constante.

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