Pular para o conteúdo principal

Shortbus (2006) - Sexy sem ser vulgar

Sexo é um tema bastante tabu em nossa sociedade, e a representação do sexo no audiovisual reflete isso. Na maioria das vezes o ato em si é somente insinuado, mas alguns filmes optam por mostrar mais explicitamente a ação. Qual o limite entre o erótico e o pornográfico? O poético e o vulgar? Poderia trazer vários filmes para a discussão, como Último Tango em Paris (famoso por uma notória cena que causou alarde inclusive nos bastidores), Azul É a Cor Mais Quente, Anticristo, Ninfomaníaca, Tinta Bruta, mas um filme que traduz perfeitamente isso é Shortbus. A obra de John Cameron Mitchell lida direto com cenas de sexo explícito, e é sobre isso que vamos falar.

Shortbus (2006)


Sofia Lin é uma terapeuta conjugal que está passando por problemas sexuais na relação com o marido: ela não consegue atingir o orgasmo. Ela recebe, um dia, James e Jamie, um casal que quer envolver um terceiro no ato sexual para salvar seu relacionamento. Sofia acaba virando amiga dos dois, que a indicam um lugar chamado Shortbus, uma espécie de clube de swing nova-iorquino onde frequentam pessoas de todos os tipos. Ao começar a frequentar Shortbus, Sofia se transforma, e encara seus próprios problemas conjugais.

John Cameron Mitchell é um nome conhecido no teatro musical - escreveu as letras e fez parte do elenco original de Hedwig and the Angry Inch, e alguns anos depois dirigiu, roteirizou e atuou na adaptação cinematográfica. Mitchel é uma figura importante, também, no cenário LGBTQ de Nova York, e Shortbus retrata justamente esse recorte. O filme trabalha a diversidade sexual de maneira perfeita, trazendo casais gays, hétero, bissexuais, mostrando que amor é amor, independente de gênero e orientação sexual. Os personagens foram construídos pelos próprios atores, o que dá ainda mais um tom de narrativa experimental.

Mas claro, o que mais chama atenção no filme são as cenas de sexo. Nada é simulado. Seria fácil taxar o filme como "pornográfico", mas o elemento sexo, por mais que seja explícito, nunca se torna algo vulgar ou gratuito. A história sempre fica acima da representação sexual, e mesmo os atos em si entram bem na narrativa, e trabalham aspectos emocionais dos personagens. Então se você espera um filme pervertido e sem enredo, sairá decepcionado. Shortbus é um filme de arte, que promove o respeito à diversidade e mostra a poesia por trás do sexo.

Descobertas e experimentações no campo da sexualidade. (Crédito: Divulgação - Fortissimo Films / Q Television)

As transições de cena com a cidade animada, mesmo que simples, são muito bem feitas, e trazem um tom leve e descontraído para o filme. A trilha sonora contribui para isso, com direito a um número musical no final que é genial (In The End), talvez a cena mais bonita. O elenco é bom, mas Sook-Yin Lee e Paul Dawson são os que mais se destacam. A busca de Sofia pelo orgasmo, que culmina na descoberta de sua sexualidade, bem como o trágico arco de James, são as melhores linhas narrativas de Shortbus.

Shortbus não é um filme para qualquer um, devido às cenas de sexo explícito, mas a mensagem é muito positiva e, quem sabe, pode ajudar pessoas a se descobrirem ou resolverem seus próprios problemas conjugais e sexuais. É um filme-terapia, do início ao fim.

NOTA: 9 / 10

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reals?

Quantas vezes você acessa o Instagram em um dia? Como se sente postando e rolando os infinitos stories? E quando seu post não recebe a quantidade de likes que você desejava, como você se sente? Em um dia em que a Wi-Fi cai, como você lida? Se você não consegue postar aquela foto que quer tanto, ou atrasa, qual o sentimento? Qual o real valor do seu reels? Quantas perguntas mais para traduzir o fluxo de informação da Internet hoje em dia? Voltemos um pouco. Há décadas atrás, as gerações agora mais antigas viviam sem computador, celular, redes sociais, IAs, nada das inúmeras facilidades que a Internet nos proporciona hoje em dia. A comunicação, assim como muitos aspectos da sociedade, evoluiu muito com o passar do tempo. Não necessitamos mais (necessariamente) mandar cartas para nos comunicarmos com nossos amigos, temos o WhatsApp e o Instagram. Vinis, fitas VHS e até CDs e DVDs já caíram em desuso. A tecnologia nos proporciona facilidades como os streamings - para que ir no cinema se po...

Revisitando Filmes #3: Martyrs (2008)

A primeira coisa que fiz, antes de começar a escrever, foi demarcar os primeiros dois parágrafos e inserir a imagem. Particularmente sobre este filme em questão, a imagem é algo essencial. Não aqueles frames gores, de tortura ou de perseguição psicológica, mas a simples (ou deveria dizer complexa) imagem do vazio existencial, que permeia a história inteira. Dito isso, comecemos. (Crédito: Divulgação - Wild Bunch) (ALERTA DE GATILHO PARA PESSOAS SENSÍVEIS - E SPOILERS!) Martyrs há anos é um dos meus filmes de vida, e revisitá-lo não foi tarefa fácil, mas me dei conta que, quanto mais adultos nós somos, mais ele mostra suas reais camadas. Falar muito sobre a sinopse iria estragar a experiência de assistir, mesmo a primeira metade. Ainda que mais simples tematicamente, o primeiro ato, a vingança de Lucy, já traz indícios do conflito real vs virtual. Toca em assuntos como saúde mental, depressão, suicídio, trauma e nos introduz a um "monstro" que persegue a garota durante a prime...

E agora?

Crédito: Divulgação - The Walt Disney Company Um super-herói está em mais um dia de sua vida, salvando a cidade, quando, em dado momento, o multiverso colide e inúmeras variantes surgem, incluindo variantes de si mesmo e de outros personagens, vividos por atores de filmes antigos, a maioria fazendo uma ponta um cameo nostálgico. Essa poderia ser a sinopse de inúmeras produções, para citar algumas, Homem Aranha: Sem Volta para Casa, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Homem Formiga e a Vespa: Quantumania, The Flash, possivelmente Deadpool 3. E se não são esses moldes, certamente haverá alguma participação especial aqui e ali - WandaVision, Loki - ou em alguma cena pós-créditos - As Marvels. E mesmo que não se trate necessariamente sobre multiverso, pode-se simplesmente jogar personagens em tela que cumprirão um valor de nostalgia - Indiana Jones e o Chamado do Destino, Jurassic World: Domínio, Jogos Mortais X e os inúmeros reboots de terror que partem do final do primeiro título. ...