Pular para o conteúdo principal

O Mau Exemplo de Cameron Post (2018)


Cameron Post é uma garota homossexual que, após ser flagrada com sua melhor amiga, é mandada pela família para um centro de terapia de reorientação sexual. Lá, passa por situações absurdas, às quais somente sobrevive com o apoio dos novos amigos Adam e Jane. O primeiro aspecto do filme que se observa é por trás das câmeras - todos envolvidos na produção são LGBTQ+, algo importante em um filme dessa temática.

Baseado em um livro da autora Emily M. Danforth, O Mau Exemplo de Cameron Post não é vislumbrante, mas em sua simplicidade acerta muito em quase todos aspectos. A direção de Desiree Akhavan é bastante discreta mas eficiente. O roteiro também; há alguns momentos um pouco inverossímeis (como o final, em que as coisas se resolvem fácil demais), mas na grande maioria do tempo é uma história que prende o espectador e mostra um lado da sociedade que às vezes não enxergamos. É assustador pensar que pessoas ainda têm, e propagam, esse tipo de pensamento. Entramos então nas atuações, talvez o maior destaque do filme.

Chloë Moretz está muito bem, talvez seu melhor papel até então. Sua atuação cresce muito, particularmente, perto do final do segundo ato. O melhor em cena ainda assim é Owen Campbell, que mesmo tendo pouco tempo de tela, protagoniza a cena mais trágica do filme, bem como o diálogo mais emocionalmente carregado. É uma cena memorável e até mesmo perturbadora em comparação às demais, onde vemos os reais efeitos dessa terapia nas pessoas. Os outros jovens no elenco estão bem também, mas não se destacam tanto. Entre os adultos, Jennifer Ehle é quem rouba a cena, e falando como espectador LGBTQ+, senti genuína raiva da personagem dela. John Gallagher Jr. (o Moritz de Spring Awakening) também, desde o começo representa muito bem a repressão interna a que seu personagem se submeteu - e se submete.


O mais assustador é que centros como esse existem até hoje... e pessoas acreditam nisso. (Crédito: Divulgação - Beachside / Parkville Pictures)


Tecnicamente, entretanto, o filme não se destaca tanto. A direção de fotografia está longe de ser espetacular, mas cumpre bem seu papel, e traz alguns planos estendidos bem interessantes, que auxiliam na imersão. A montagem e edição são eficientes, apenas isso. A trilha sonora que fica aquém dos demais elementos; não é de todo ruim, mas cai no senso comum. O uso de músicas de terceiros por outro lado foi muito bem feito - a cena em que toca 4 Non Blondes é perfeita, facilmente uma das melhores do filme. O que mais chama a atenção tecnicamente é a direção de arte, que usa tons quase monocromáticos e minimalistas, de acordo com a energia baixa e triste do ambiente.

O Mau Exemplo de Cameron Post não é um filme grandioso, mas é um título interessante do cinema independente, ainda mais no período em que vivemos.


Nota: 6 / 10


Letterboxd:

lucasnoronha99 (https://bit.ly/3dbE2p5)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Thunderbolts* salvou minha vida

Nunca achei que diria isso, mas obrigada, Marvel Studios. Thunderbolts* (destaque para o asterisco, é essencial), bem resumidamente, traz figuras em segundo plano no grande espectro do MCU se unindo e formando uma equipe improvável, de anti-heróis e vigilantes com um passado conturbado e que, sem exceção, lidam com problemas familiares, pessoais e de saúde mental. Na verdade, é um filme sobre saúde mental, vindo da Marvel Studios. Coisa que nem no cenário mais otimista imaginaria, especialmente vindo após o horror que foi Capitão Falcão vs Harrison Ford Vermelho (desculpa, Sam Wilson, torço que você tenha um arco de redenção no futuro com filmes melhores). Dessa maneira, eu, muito mais alinhada ao DCU do James Gunn ultimamente, e cética com o trabalho da Disney com esse multiverso compartilhado, decido assistir à nova produção capitalista da Marvel Studios. E quem diria... mudou minha vida? Crédito: Divulgação - The Walt Disney Company (Alerta de spoilers) Entremos no filme. Como retra...

Além da Barreira das Legendas #0 - Martyrs (2008)

Martys é um dos meus filmes preferidos, e meu roteiro preferido (irei explicar os motivos), então, por mais irônico que seja, é sempre um prazer para mim falar sobre o filme. Para começar a falar de Martyrs, preciso falar sobre o movimento chamado New French Extremity. Foi um movimento especialmente predominante na passagem do século XX para o século XXI, e teve como principais expoentes filmes como Irreversível, A Invasora, Em Minha Pele, Alta Tensão, A Fronteira e Martyrs. A concepção do movimento era trazer uma sensação de perturbação ao espectador, trazendo cenas de violência extrema aliadas a um conteúdo transgressor e seco, às vezes niilista. O longa traz perfeitamente essa abordagem. A história gira em torno das amigas Lucie e Anna. Lucie foi capturada quando pequena por uma seita e viveu em cativeiro por alguns anos, sofrendo constantes abusos e torturas. Um dia ela escapa, e vai parar em um orfanato. Ela é completamente antissocial e autodestrutiva, e tem como única ami...

Revisitando Filmes #1: O Pacto (2001)

2023 tem sido até então o ano mais desafiador da minha vida. 2022 e 2023, mas em particular 2023. Me perdi e me encontrei inúmeras vezes, tanta coisa aconteceu - inúmeros giros em 360º e plot twists, surpresas boas, situações inesperadas, momentos complicados... Nesse contexto, decidi reassistir a alguns filmes importantes para mim, meus filmes de cabeceira. Comecei com O Pacto (mais conhecido como Suicide Club), e não podia ter feito escolha melhor. Inicialmente estava um pouco receosa dado a temática e o conteúdo forte (e gráfico em alguns momentos), mas botei o DVD e encarei a experiência. Já fiz uma análise mais aprofundada desse filme tempos atrás, no quadro Além da Barreira das Legendas, então esse texto é um comentário atual e transcrições de sentimentos e impressões de modo geral. (Crédito: Divulgação - Omega Pictures) (Alerta de gatilho, dado ao tema, e spoilers) A primeira impressão que fica é relativa à temática. Suicídio é um tópico muito sensível, especialmente para o Japã...