Pular para o conteúdo principal

VEREDITO: WandaVision (2021)

WandaVision acabou. A série foi extremamente elogiada e foi um divisor de águas, não só para a Marvel, mas para a história da TV... ou será que foi mesmo? Para responder à essa pergunta é inevitável entrar em detalhes, então...


(Crédito: Divulgação - The Walt Disney Company)


Spoilers de WandaVision e do MCU adiante!

Uma coisa é certa: WandaVision deixou o público em êxtase. As redes sociais foram tomadas por memes, teorias, críticas, opiniões (a maioria positivas) em relação à primeira série da Marvel conectada diretamente ao Universo Compartilhado - esqueçam Agents of SHIELD e as séries da Netflix. O novo modelo proposto por Kevin Feige é tão grandioso quanto o MCU em si, e começou com uma série cuja proposta é curiosa: dois grandes personagens dos quadrinhos, que nos filmes atuam mais como coadjuvantes, protagonizando uma série que reconstrói a história das sitcoms. Um tanto quanto ousado, especialmente considerando que o trabalho anterior do estúdio foi Vingadores: Ultimato.

Eis que WandaVision estreia, lançando dois episódios de uma vez só (crítica completa disponível em https://bit.ly/3sNIVuQ). Sitcoms! Preto e branco! Logo no começo a série já deixa claro seu tom: o foco não é a ação. Ainda assim, algo soa estranho, e desde o primeiro episódio vemos isso. Gradualmente, uma história paralela entra em jogo, e nela vemos como a SWORD, agência que substituiu a SHIELD, está lidando com o incidente de Westville. Personagens de outras produções retornam, personagens importantes para produções futuras são apresentados - a Monica Rambeau é incrível - há vários easter eggs (assim como todas produções da Marvel) e... é o MCU sendo MCU. A série eventualmente encontra um equilíbrio entre as duas linhas narrativas, que então colidem. Nesse meio tempo as teorias vieram, e cada personagem novo que aparecia era o Mephisto, este que, no fim das contas, nem deu as caras. Afinal, it was Agatha all along!

É inegável que foi uma série extremamente popular, e isso é ótimo. Foi também uma das séries mais bem avaliadas dos últimos tempos - ainda que um pouco superestimada. Criticar um produto audiovisual tão elogiado e amado é um desafio e tanto, mas vamos lá.

A essa altura todos sabemos da existência da chamada "fórmula Marvel". É uma padronização inevitável, especialmente considerando a demanda requerida para construir a coesão entre as narrativas. Uma espécie de produção em massa. Nesse sentido, há de se tirar o chapéu para o trabalho de Kevin Feige, que conseguiu conectar de maneira quase perfeita 23 filmes e uma série, mais inúmeras produções vindouras. Só que o custo disso é uma certa perda de identidade. Claro, há exceções, mas em muitos aspectos as produções da Marvel são semelhantes demais. Os roteiros, os personagens, as reviravoltas... é uma fórmula, então as pessoas mais atentas conseguem adivinhar facilmente o que vem em seguida.  Um ótimo exemplo disso é a música. Além do tema dos Vingadores, que outro tema musical marcante há dentro do MCU?

Mas onde WandaVision entra nisso? A série inicialmente se propôs a ser altamente inovadora, trazendo justamente o elemento das sitcoms, que se reflete tanto no storytelling quanto visualmente - destaque para a direção de fotografia, que ambienta bem os diferentes recortes narrativos. Só que era inevitável que o MCU entrasse em jogo. Vemos isso claramente no quarto episódio, que se passa inteiramente fora de Westville e serve como uma muleta narrativa (no bom sentido, pois é um bom episódio). Já no quinto há o equilíbrio perfeito entre as duas histórias, culminando na maior surpresa da série: Evan Peters. A partir daí, a linha entre as sitcoms (a ilusão) e a realidade vai ficando mais tênue - e é aí que a série deixa mais evidente a fórmula Marvel. E isso não necessariamente é algo ruim.

O mais interessante é a maneira como a série lida com Wanda Maximoff, que assume de vez seu codinome clássico, Feiticeira Escarlate. O final da série talvez frustre algumas pessoas, mas é o melhor final que o arco dela poderia ter, mostrando a evolução emocional da personagem - mérito não apenas do roteiro, mas também da atuação espetacular de Elizabeth Olsen, que já é a Feiticeira Escarlate definitiva do cinema. Nesse contexto, o Visão, um personagem que ficou um pouco apagado nos filmes, ganha uma ressignificação, e conclui seu arco no MCU de forma poética, à la tears in rain. Particularmente, uma das melhores cenas da série. Mesmo assim, a história como um todo poderia ousar mais se não houvesse o arco da SWORD, e Wanda descobrisse tudo por conta própria. Mas por um lado isso é bom. Se não houvesse essa linha narrativa, talvez WandaVision não tivesse um acolhimento tão grande por parte dos fãs.

Talvez WandaVision pudesse ser mais subversiva, mas talvez tenha sido subversiva o suficiente para surpreender tanto "marvetes" quanto pessoas céticas em relação ao Universo Cinematográfico Marvel (como quem vos fala).


Análise da trilogia original dos X-Men: 

Análise da trilogia original do Homem-Aranha:

Letterboxd:

lucasnoronha99 (https://bit.ly/3dbE2p5)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Thunderbolts* salvou minha vida

Nunca achei que diria isso, mas obrigada, Marvel Studios. Thunderbolts* (destaque para o asterisco, é essencial), bem resumidamente, traz figuras em segundo plano no grande espectro do MCU se unindo e formando uma equipe improvável, de anti-heróis e vigilantes com um passado conturbado e que, sem exceção, lidam com problemas familiares, pessoais e de saúde mental. Na verdade, é um filme sobre saúde mental, vindo da Marvel Studios. Coisa que nem no cenário mais otimista imaginaria, especialmente vindo após o horror que foi Capitão Falcão vs Harrison Ford Vermelho (desculpa, Sam Wilson, torço que você tenha um arco de redenção no futuro com filmes melhores). Dessa maneira, eu, muito mais alinhada ao DCU do James Gunn ultimamente, e cética com o trabalho da Disney com esse multiverso compartilhado, decido assistir à nova produção capitalista da Marvel Studios. E quem diria... mudou minha vida? Crédito: Divulgação - The Walt Disney Company (Alerta de spoilers) Entremos no filme. Como retra...

Reals?

Quantas vezes você acessa o Instagram em um dia? Como se sente postando e rolando os infinitos stories? E quando seu post não recebe a quantidade de likes que você desejava, como você se sente? Em um dia em que a Wi-Fi cai, como você lida? Se você não consegue postar aquela foto que quer tanto, ou atrasa, qual o sentimento? Qual o real valor do seu reels? Quantas perguntas mais para traduzir o fluxo de informação da Internet hoje em dia? Voltemos um pouco. Há décadas atrás, as gerações agora mais antigas viviam sem computador, celular, redes sociais, IAs, nada das inúmeras facilidades que a Internet nos proporciona hoje em dia. A comunicação, assim como muitos aspectos da sociedade, evoluiu muito com o passar do tempo. Não necessitamos mais (necessariamente) mandar cartas para nos comunicarmos com nossos amigos, temos o WhatsApp e o Instagram. Vinis, fitas VHS e até CDs e DVDs já caíram em desuso. A tecnologia nos proporciona facilidades como os streamings - para que ir no cinema se po...

O Cadáver da Inteligência Artificial (uma entrevista com o ChatGPT)

Nós vivemos em um tempo de avanço de tecnologias e novas maneiras de enxergar o mundo. O fluxo de informações nunca esteve tão acelerado, com diversas redes sociais que demandam um imediatismo absurdo, e conteúdos de segundos que, cada vez mais, reduzem nossa tolerância e paciência. O que é considerado devagar e cansativo, hoje, cada vez se torna mais curto - a "tiktokização" do pensamento já tornou vídeos de 5 minutos ou até mesmo algumas páginas de um livro algo de difícil consumo, taxado de "chato". Nós estamos nos acomodando na automação de tudo, e o resultado disso é uma geração que tem dificuldade até em escrever a própria assinatura. Nesse contexto, uma ferramenta em particular emerge mais que nunca: a inteligência artificial. Em voga especialmente devido à uma controversa trend envolvendo o Studio Ghibli, o debate sobre artes de IA serem arte, a ética acerca de produtos gerados por ferramentas como ChatGPT, aflora. Ainda assim, precisamos olhar para isso com...