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Enola Holmes (2020)

Sherlock Holmes é, sem sombra de dúvida, um dos maiores personagens da literatura. Sherlock já ganhou inúmeras adaptações para o cinema e a televisão, mais notavelmente os filmes de 2009 e 2011, com Robert Downey Jr., e a série da BCC, com Benedict Cumberbatch. Uma nova visão do personagem - ou melhor, de sua família - foi apresentada pela autora Nancy Springer, que em 2006 lançou o primeiro volume de uma série de livros sobre Enola Holmes, irmã de Sherlock, o qual foi recentemente adaptado em um filme pela Netflix.


Enola Holmes (2020)



Enola é uma garota de 16 anos recém feitos que vive com sua mãe, Eudoria, até que esta desaparece misteriosamente. Isso faz com que seus dois irmãos, Mycroft e Sherlock Holmes, voltem para casa. Enola fica sob tutoria de Mycroft, que insiste em levá-la para um internato de mulheres, devido a seu comportamento transgressor para a época. A garota então foge de casa e vai em busca da mãe por conta própria, conhecendo no caminho um marquês britânico foragido, que irá interferir em seus planos.

Enola Holmes é um filme de aventura leve que, assim como os livros, é voltado para um público de jovens-adultos. O roteiro é simples mas funciona muito bem como entretenimento, e traz questionamentos muito importantes relativos ao papel da mulher na sociedade. Enola é tão inteligente quanto o irmão, mas sempre é vista à sombra dele. Essa é sua maior motivação, fazer sua voz ser ouvida em uma sociedade predominantemente masculina. Millie Bobby Brown está incrível no papel, é o maior destaque no filme - seu carisma em cena é evidente. Sam Claflin faz um Mycroft extremamente odioso; personagens assim costumam ser os mais difíceis de se interpretar, e ele tira de letra. Não sou muito fã do trabalho de Henry Cavill, acho ele um ator limitado, mas seu Sherlock é diferenciado e cumpre seu papel na narrativa.

Tecnicamente é um filme deslumbrante, com uma direção de fotografia linda (vide o plano geral de Enola e Tewkesbury caminhando pelo campo) e uma montagem bastante simples e autoral. A maioria das pessoas tomam "simples" como defeito, quando às vezes fazer o simples é algo bem difícil; Adam Bosman faz um ótimo uso de montagem métrica, trazendo uma dinâmica maior à narrativa. A quebra da quarta parede é outro elemento muito bem empregado, evitando pleonasmos e encontrando o tom narrativo perfeito, inclusive deixando a história mais leve em alguns momentos. A trilha sonora também; composta por Daniel Pemberton (que compôs as scores de Aves de Rapina e Homem-Aranha no Aranhaverso), é sutil e discreta, mas muito eficiente na construção da atmosfera.


Desconstruindo o universo literário - e cinematográfico - de Conan Doyle. (Crédito: Divulgação - Netflix)


Enola Holmes não é um grande filme, mas é uma ótima aventura que, além de ser uma ótima obra de entretenimento, debate assuntos muito pertinentes em nossa sociedade ainda hoje.


Nota: 7 / 10


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