2019 foi um ano de encerramento de várias séries consagradas - sejam elas televisivas ou cinematográficas. Estou falando do MCU (Marvel Cinematic Universe), que encerrou seu primeiro grande arco com Vingadores: Ultimato, e de Game of Thrones, que teve os episódios finais exibidos esse ano. A estes dois se junta a saga Star Wars, que entrega seu capítulo final, dividindo opiniões.
A Ascensão Skywalker era um dos filmes com maior hype de 2019, então era esperado que fosse dividir os espectadores, mas o que foi apresentado foi algo completamente inesperado - para mim, infelizmente, muito abaixo das expectativas. Gosto bastante da franquia, mas não me considero fã, então assisti ao filme sem nenhuma expectativa, e mesmo assim saí extremamente frustrado do cinema. O longa tem seus momentos, entretanto carece de coesão narrativa, com um roteiro mal escrito que se sustenta em fan service. Não julgando este recurso; especialmente se tratando do último capítulo da trilogia (e da saga Skywalker como um todo), era mais que natural. O que é ruim é quando a história toda se sustenta nisso. Isso mostra as derrapadas que os roteiristas cometeram, até mesmo um certo descuido e desentendimento do universo Star Wars.
(ALERTA SPOILERS)
De longe o roteiro é o aspecto mais gritante do filme. Há inúmeras falhas e furos de roteiro, que advém especialmente do mal planejamento da nova trilogia. A Ascensão Skywalker foi diretamente afetado por Os Últimos Jedi, o episódio anterior, que ao tentar subverter a cartilha padrão da franquia acabou cometendo inúmeros erros, desagradando grande parcela dos fãs e espectadores de modo geral. Então esse filme foi moldado de maneira a agradar o máximo de pessoas possível, o que acabou enfraquecendo-o, tornando-o quase uma fanfic (uma alusão feita por alguns críticos e à qual concordo completamente). O ressurgimento de Palpatine é muito sintomático disso. É algo mencionado somente no texto inicial, e que não é explicado em momento nenhum, é empurrado goela abaixo do espectador. Mais tarde falarei mais sobre ele, há mais problemas de construção envolvendo o Palpatine.
(Crédito: Divulgação - The Walt Disney Company)
Situações muito importantes para o fluxo da narrativa são omitidas, não aparecem em tela, como o treinamento de Rey com Leia. Sem contar que surgem novos poderes Jedi nunca apresentados antes, ao menos nos filmes. O universo Star Wars é muito amplo, englobando também livros, séries, jogos, desenhos animados, entre outros, mas é um erro introduzir elementos novos nos filmes sem uma explicação mínima, já que nem todos espectadores são fãs ou conhecem detalhes do Universo Expandido (eu por exemplo). Outro problema perceptível na construção narrativa é o péssimo hábito de desconstruir situações dramáticas e emocionantes com piadas ou resoluções fáceis - uma certa marvelização da franquia. O maior exemplo disso é o momento em que C-3PO perde a memória, que desde os trailers prometia ser o mais emocionante do filme, o qual é jogado um balde de água fria.
O mesmo pode ser dito da morte de Leia, uma personagem fundamental desde o começo da franquia, e que tem uma morte extremamente mal planejada. É compreensível, visto o falecimento de Carrie Fisher, mas a maneira que ela morre não faz jus à importância da personagem, e acaba sendo frustrante (ao menos para mim). Há muitas pontas soltas também, como o que Finn pretendia dizer para Rey - que deveria ter sido dito em tela, não fora dela. E voltando para Palpatine, é evidente que a presença dele é mais uma maneira de tentar contornar Os Últimos Jedi, já que Snoke foi um personagem com muito potencial mas foi mal desenvolvido, e descartado cedo demais. Seu plano não faz sentido algum, e a própria resolução, em tese, é contraditória - afinal, Rey o assassina, como ele desejava. Não havia necessidade de trazê-lo de volta, mas já que trouxeram, Palpatine merecia um tratamento melhor.
A revelação de que Rey é sua neta pode ser à primeira vista algo interessante, mas ao meu ver também é algo mal desenvolvido, especialmente considerando o filme anterior. Parece-me mais uma forma de negligência à história de Rian Johnson, mais uma inconsistência na construção na trilogia. Por último, e não menos grave, há várias semelhanças narrativas com Vingadores: Ultimato, com direito a uma referência que beira cópia ao embate de Thanos e Homem de Ferro. Não somente essa, todas frases de efeito atrapalham a imersão, tornando a história ainda mais previsível.
(Crédito: Divulgação - The Walt Disney Company)
Mas A Ascensão Skywalker não é de todo ruim. Apesar do roteiro extremamente falho, é um filme visualmente muito bonito, e carregado de emoção - mérito do fan service, que é eficiente em comover os fãs e espectadores fiéis. Vale destacar também o arco de Kylo Ren, que tem o melhor desenvolvimento de personagem do filme todo (de toda nova trilogia na verdade). A relação de Rey e Kylo é o ponto alto do filme. O duelo de sabre de luz dos dois na nave no meio da água é impecável, genuinamente incrível. Daisy Ridley e Adam Driver têm muita química, e entregam as melhores atuações do longa. Nem mesmo o beijo piegas no final atrapalha o trabalho dos dois. O resultado final é um filme que como entretenimento funciona, e que com certeza vai agradar os fãs mais ávidos de Star Wars; mas dada a responsabilidade de ser a conclusão de um arco de nove filmes (e de uma das franquias mais importantes da história) acaba decepcionando.
NOTA: 5,5 / 10
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