Pular para o conteúdo principal

Uma Noite em Miami (2020)

 


Mais uma edição do Academy Awards está chegando. Muito mais que o Oscar, agora é o período do ano no qual diversos festivais de cinema acontecem, e são inevitáveis os palpites de quais filmes serão indicados e vencedores nos festivais. 2020 foi um ano bastante atípico para a indústria cinematográfica, com diversas produções sendo adiadas em função da pandemia, trazendo uma sensação de desesperança, que foi preenchida com a ascensão do mercado do streaming. Logo, é de se esperar que muitos dos títulos indicados virão de plataformas de streaming, tais quais Netflix, Amazon Prime e Disney +. Um filme muito importante e forte candidato, lançado na Amazon Prime, é Uma Noite em Miami.

Uma Noite em Miami acompanha quatro figuras históricas (Malcom X, Jim Brown, Sam Cooke e Muhammad Ali - enquanto ainda se chamava Cassius Clay) que se encontram para comemorar a conquista de Ali do título de campeão mundial. Baseado em uma peça escrita por Kemp Powers, que por sua vez é baseada em fatos reais, o filme acerta em cheio na adaptação. A direção de Regina King é excelente, conseguindo trazer uma atmosfera teatral sem deixar de lado os elementos cinematográficos - e ainda trazendo autoralidade, algo que nem todos diretores alcançam. King construiu grande parte de sua carreira voltada para atuação, e aqui ela mostra que não só tem potencial também para direção, mas é uma grande diretora, com um futuro muito promissor pela frente.

O elenco também é outro destaque, com atuações muito fortes e marcantes. São estudos de personagem muito bem feitos, e os quatro atores possuem uma química cênica incrível. Vale destacar, ainda assim, a atuação de Leslie Odom Jr. (o Aaron Burr de Hamilton), que tem tudo para ganhar o prêmio de Ator Coadjuvante premiações afora. Uma Noite em Miami se assemelha muito a A Voz Suprema do Blues, não somente pela temática, mas também pelo aspecto teatral, mas ao contrário da produção da Netflix, finaliza com uma nota um pouco mais otimista. Cada personagem traz bagagens e visões de mundo diferentes, e os diálogos trabalham muito bem isso - em especial o conflito entre Sam Cooke e Malcom X, que é gradualmente construído e leva à cena mais poderosa do filme.

Tecnicamente é um filme muito bem feito, com menos jogos de câmera do que A Voz Suprema do Blues, mas com um movimento fluido e cortes quase invisíveis, que auxiliam na imersão da história. A trilha sonora exerce um papel interessante, com uma sonoridade mais "leve", dialogando com o próprio tom do filme - é um encontro de amigos, e mesmo que assuntos densos e fortes acabem vindo à tona, ainda é uma comemoração. E claro, é sempre um prazer ouvir o Leslie cantar.


(Crédito: Divulgação - Amazon Prime Video)


Uma Noite em Miami é um grande filme que fala sobre uma temática extremamente relevante para os dias atuais, e é um dos possíveis candidatos mais fortes da temporada. Tem tudo para receber diversas indicações ao Oscar, como Roteiro Adaptado, Ator Coadjuvante (Leslie Odom Jr.), Direção (Regina King) e Filme, com possíveis vitórias de Leslie e Regina - seria incrível a vitória de King como Melhor Diretora. Ela seria a primeira mulher negra a ganhar nesta categoria, um marco não apenas para a Academia, mas um grande passo em direção à diversidade e representatividade no cinema.


Crítica do filme A Voz Suprema do Blues: 

Letterboxd:

lucasnoronha99 (https://bit.ly/3dbE2p5)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Thunderbolts* salvou minha vida

Nunca achei que diria isso, mas obrigada, Marvel Studios. Thunderbolts* (destaque para o asterisco, é essencial), bem resumidamente, traz figuras em segundo plano no grande espectro do MCU se unindo e formando uma equipe improvável, de anti-heróis e vigilantes com um passado conturbado e que, sem exceção, lidam com problemas familiares, pessoais e de saúde mental. Na verdade, é um filme sobre saúde mental, vindo da Marvel Studios. Coisa que nem no cenário mais otimista imaginaria, especialmente vindo após o horror que foi Capitão Falcão vs Harrison Ford Vermelho (desculpa, Sam Wilson, torço que você tenha um arco de redenção no futuro com filmes melhores). Dessa maneira, eu, muito mais alinhada ao DCU do James Gunn ultimamente, e cética com o trabalho da Disney com esse multiverso compartilhado, decido assistir à nova produção capitalista da Marvel Studios. E quem diria... mudou minha vida? Crédito: Divulgação - The Walt Disney Company (Alerta de spoilers) Entremos no filme. Como retra...

Reals?

Quantas vezes você acessa o Instagram em um dia? Como se sente postando e rolando os infinitos stories? E quando seu post não recebe a quantidade de likes que você desejava, como você se sente? Em um dia em que a Wi-Fi cai, como você lida? Se você não consegue postar aquela foto que quer tanto, ou atrasa, qual o sentimento? Qual o real valor do seu reels? Quantas perguntas mais para traduzir o fluxo de informação da Internet hoje em dia? Voltemos um pouco. Há décadas atrás, as gerações agora mais antigas viviam sem computador, celular, redes sociais, IAs, nada das inúmeras facilidades que a Internet nos proporciona hoje em dia. A comunicação, assim como muitos aspectos da sociedade, evoluiu muito com o passar do tempo. Não necessitamos mais (necessariamente) mandar cartas para nos comunicarmos com nossos amigos, temos o WhatsApp e o Instagram. Vinis, fitas VHS e até CDs e DVDs já caíram em desuso. A tecnologia nos proporciona facilidades como os streamings - para que ir no cinema se po...

O Cadáver da Inteligência Artificial (uma entrevista com o ChatGPT)

Nós vivemos em um tempo de avanço de tecnologias e novas maneiras de enxergar o mundo. O fluxo de informações nunca esteve tão acelerado, com diversas redes sociais que demandam um imediatismo absurdo, e conteúdos de segundos que, cada vez mais, reduzem nossa tolerância e paciência. O que é considerado devagar e cansativo, hoje, cada vez se torna mais curto - a "tiktokização" do pensamento já tornou vídeos de 5 minutos ou até mesmo algumas páginas de um livro algo de difícil consumo, taxado de "chato". Nós estamos nos acomodando na automação de tudo, e o resultado disso é uma geração que tem dificuldade até em escrever a própria assinatura. Nesse contexto, uma ferramenta em particular emerge mais que nunca: a inteligência artificial. Em voga especialmente devido à uma controversa trend envolvendo o Studio Ghibli, o debate sobre artes de IA serem arte, a ética acerca de produtos gerados por ferramentas como ChatGPT, aflora. Ainda assim, precisamos olhar para isso com...