A série Loki, da Marvel Studios, era uma das mais esperadas dentre todas anunciadas pela empresa. O personagem é de longe um dos mais carismáticos da franquia. Loki estreou há um tempo já - na semana em que escrevo acaba de ser lançado o terceiro episódio. Por que falar dessa série só agora? Muitos canais e veículos midiáticos, críticos, fãs, estão comentando os vários detalhes dos episódios; os easter eggs, as teorias, as possibilidades do futuro do MCU, mas nem todos percebem a nuance que gradualmente se constrói no roteiro de Michael Wardron.
(Contém spoilers)
Em dado momento, Loki conversa com Mobius. Este guarda uma revista de jet ski, que, diz ele, nunca chegou a usar, mas imagina que seja incrível. Aquela revista o faz se sentir mais motivado a seguir trabalhando na AVT. A conversa então gradualmente se torna em uma discussão sobre quem nos criou e da onde viemos.
Mobius - É exatamente a mesma coisa. Porque se pensa muito sobre de onde viemos, quem realmente somos, parece ridículo. A existência é caos. Nada faz sentido, então tentamos tirar um sentido. E tenho sorte que o caos em que eu emergi me deu tudo isso... Meu próprio glorioso propósito.
Mobius pensa que a vida é uma dádiva dada por entidades intangíveis, e devemos aceitar as coisas como são e viver nossas vidas evitando pensar no caos. Loki, por outro lado, é a personificação do caos. Ele constantemente toma atitudes contra as regras e manipula a todos para seus interesses pessoais - um hedonista. Para ele, em outras palavras, de nada vale viver uma vida acomodada. Haja um Deus ou não - vale aqui mencionar que o próprio Loki é um deus - nosso final sempre será o mesmo. Por que não, então, aproveitar um pouco a vida?
A história continua, acompanhando uma investigação da AVT em torno de uma Variante, e enfim esta Variante surge. Era de se imaginar que Loki seguiria essa figura misteriosa. Tal decisão rende o melhor episódio da série até agora, e um dos melhores das séries do MCU: Lamentis.
O terceiro episódio traz a dinâmica (muito bem construída) entre o protagonista e sua Variante - Sylvie. Os dois entram em atritos, como duas moléculas caóticas, e vão parar em um lugar inóspito da galáxia, que está prestes a ser destruído. Me remeteu muito ao filme Melancolia, do Lars Von Trier; e a premissa do episódio realmente dialoga em vários sentidos. Loki e Sylvie precisam encontrar uma maneira de sair dali, pois o apocalipse está chegando e vão todos morrer. Afinal, o fim é inevitável, não? É aí que vemos as diferenças entre os dois.
Loki não acredita muito em planos e vive provocando imprevistos, à primeira vista, desnecessários. Isso fica evidente na cena do bar. Os dois conversam sobre suas vidas e o que é amor. Quem espera por nós? Então vemos a diferença entre eles: Sylvie repousa enquanto Loki enche a cara no bar, e diverte quem está ali presente. O plano dá errado, mas aquele momento certamente ficará na memória tanto de Loki quanto das pessoas. Nós sabemos que eles irão sair dessa enrascada, afinal, a série está na metade ainda, mas fiquemos um pouco nessa situação. O mundo está acabando mesmo, certo? Quem somos nós para julgar sua atitude? Se soubesse que meu fim está próximo iria aproveitar ao máximo minha vida.
Não conheço muito sobre quadrinhos, e posso estar indo além do que Wardron almejou com o roteiro de Loki. Pode ser tudo mais uma narrativa "simples" com easter eggs e um filtro roxo melancólico. Ou pode ser um dos melhores roteiros da Marvel até agora.
O fim chega uma hora ou outra. Que aproveitemos cada segundo. E em momentos de crise, basta gritarmos. Sejamos mais Variantes e menos marionetes da ATV.
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