X-Men foi um dos filmes mais importantes de super-heróis da história. Foi um dos pioneiros do gênero, e abriu a porta para todas produções que vemos atualmente (vide o MCU). É uma franquia, entretanto, que se desgastou muito com o tempo, ainda mais após a compra da Fox pela Disney - que mudou radicalmente os planos para a superequipe na sétima arte. Com uma linha temporal bastante confusa, o último filme até então era Fênix Negra, que concluiu de maneira amarga (e altamente insatisfatória) o arco dos mutantes clássicos. Os Novos Mutantes chega como o último filme pertencente aos X-Men da Fox, agora sob o nome 20th Century Studios, e... traz elementos interessantes mas está longe de ser memorável.
Os Novos Mutantes acompanha cinco jovens mutantes que vivem em um centro de pesquisas, organizado pela doutora Cecilia Reyes. Eles precisam encarar uma misteriosa entidade, que se aproxima do lugar com a chegada da mais nova paciente, Dani, enquanto lidam com a descoberta de segredos em torno de Reyes e aprendem a lidar com seus poderes (e suas emoções). Eis o grande defeito da obra de Josh Boone: o filme não possui um tom definido, transitando entre um filme de terror e de amadurecimento - e não desenvolvendo bem nenhum deles. Parte disso vem do caminho complicado que a produção percorreu, passando por várias interrupções, a compra da Fox e a pandemia de Covid-19. Houve também um hype imenso em torno do filme, especialmente após o lançamento do primeiro teaser (ainda em 2017), que aumentou as expectativas.
O resultado final, entretanto, não é de todo ruim. Os personagens (ou a maioria deles) são bem interessantes, e mesmo com a falta de desenvolvimento se destacam, particularmente a Illyana de Anya Taylor-Joy. Seu backstory é bem pesado, com alguns subtextos que talvez passem despercebidos por alguns espectadores. Gostei bastante da relação de Lupina e Dani - as duas atrizes estão muito bem, especialmente Maisie Williams. É importante mencionar a polêmica em torno do casting de Henry Zaga no papel de Mancha Solar, ou Roberto da Costa, o primeiro super-herói brasileiro da Marvel. O whitewashing interferiu demais no arco do personagem, que originalmente descobriu seus poderes após sofrer um ato de racismo - o Roberto de Henry Zaga é sem graça e possui uma origem bastante clichê. Mas os demais personagens também sofrem nas mãos do roteiro de Boone e Knate Lee, que tenta abordar temas densos como adolescência, depressão e violência sexual e, infelizmente, falha miseravelmente.
O grande problema no roteiro está no ato final. É semelhante ao que acontece no reboot de Quarteto Fantástico de 2015 (que é infinitamente pior diga-se de passagem), que passa tempo demais desenvolvendo, ou tentando desenvolver, os personagens, e encontra dificuldade na construção do clímax. O "vilão" da história quase não aparece, enfraquecendo demais o desfecho. Percebi que Boone tentou construir uma subjetividade em torno do Urso Demoníaco, mas ao contrário de filmes como Hulk (aquele mesmo, do Ang Lee), não parece funcionar. As analogias feitas pelo cineasta são superficiais demais. Por conta disso tudo, a impressão que passa é que algo não está encaixando na narrativa.
Tecnicamente é um filme regular, com destaque para a direção de fotografia - mesmo que sem muitas inovações, é uma fotografia que ambienta bem e traduz satisfatoriamente o sentimento dos personagens. Os demais elementos, entretanto, são eficientes e é isso - edição, trilha sonora, direção de arte... sem muito destaque.
Admito que achei Os Novos Mutantes um filme relativamente divertido de se assistir, mas só. Ele tenta ser muitas coisas mas não acaba sendo nada: não assusta, não inova, não provoca grandes reflexões e não funciona tão bem como peça de entretenimento. Está longe de ser um novo Fênix Negra, mas como último capítulo de uma das franquias mais importantes da história do cinema, é bastante desapontador.
Nota: 5 / 10
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